«Os Narcóticos» (volume 1) de Camilo Castelo Branco
A partir de dois livros de Fernando Palha editados em 1882, Camilo Castelo Branco revisita alguns episódios da História de Portugal. O título «Narcóticos» tem a ver com as tentativas de envenenamento de D. João II, diversas desde 1491 até à morte. Camilo recorda o rei («homicida traiçoeiro, implacável destruidor dos seus parentes, o primeiro que em Portugal queimou hebreus expulsos de Castela, promotor do extermínio de oitenta vítimas ilustres, a veneno e a punhal»), não se mostra surpreendido pela incorrupção do seu cadáver («faltava a ponta do nariz o que não quer dizer nada em matéria de santidade») e avança com uma explicação: «emprega-se o sublimado corrosivo e o cloreto de zinco para embalsamar cadáveres humanos por possuírem essas substâncias as propriedades conservadoras do arsénico.» Camilo aproxima a actualidade europeia (1882) ao passado português (1536) no que respeita ao problema judaico; «O mesmo era matar judeus não processados, como em tempo de D. João II, ou desterrá-los roubados nos bens e nos filhos como em tempo de D. Manuel, ourebanhá-los em massa e lavá-los daí processionalmente aos suplícios públicos das praças.» Completam o volume a novela «O senhor ministro» e os textos «A viúva do poeta Ovídio», «Silva Pinto e a sua obra», «Ideias de D. João VI» e «Camões e os sapateiros» Na novela, Amália ouve do tio padre esta frase sobre os sonhos de literato do seu herói: «os melhores poetas de Portugal mendigaram mas os que eram pobres tiveram o bom juízo de não casarem - Camões Bocage, Tolentino, etc.»
José do Carmo Francisco
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