«As Amantes de D. João V» de Alberto Pimentel
Este livro de Alberto Pimentel (1849-1925), não se limita ao universo do seu título. Muito para além das aventuras do Rei com Filipa de Noronha, Maria Ana de Áustria, Soror Paula, Margarida do Monte, A Flor da Murta e a actriz Petronilha, há nestas páginas a memória viva dum certo tempo português. A época e o tempo de D. João V: «Era ágil, desembaraçado e robusto. Dotado de uma certa viveza natural, de um certo engenho penetrante, tinha, para as mulheres a qualidade preciosa de as compreender sem hesitações e de se fazer compreender sem delongas». A rainha que veio da Áustria «falava latim, italiano, francês e espanhol, tinha muita piedade e muita religião e gostava de caçar». A propósito de um incidente em que a condessa de Vila Nova de Portimão, ao ser agarrada por D. João V, uma noite lhe deu um bofetão enquanto gritava «Que é isto! Pouca-vergonha!», comenta o autor: «Era forte e desembaraçada além de guapa. Devia ser pois deu cinco filhas ao marido e um bofetão ao Rei». O clima geral é dado numa frase: «Havia dois espectáculos predilectos da corte e do povo: eram os autos-de-fé e as touradas». Sobre o amor uma ideia: «Fidalgos, frades, postas, velhos, moços, ardiam em incêndios de volúpia. O Rei, cônscio da sua elevada posição, não lhes queria ficar trás. Não foi outra coisa». Para o final da vida o Rei procurou cura nas Caldas da Rainha. Logo os frades de Alcobaça lhe enviaram 69 vitelas, 194 presuntos, 182 queijos, 210 perus, 692 galinhas, 12 cargas de fruta, 36 paios e 333 caixas com doce. D. João V quase morria de fartura mas repartiu o presente com a família dispersa na (hoje) cidade termal.
José do Carmo Francisco
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