«A árvore seca» de Alexei Bueno
Alexei Bueno (Rio de Janeiro, 1963) publica regularmente poesia desde 1984 além de ter editado diversas obras completas (poetas brasileiros e portugueses) e de ser um excelente tradutor de poesia – Põe Longfellow, Mallarmé, Tasso e Leopardi, entre outros.
Para dar aos nossos leitores uma ideia da poesia deste autor vejamos este espantoso retrato do Brasil no poema «Speculum Patrie»
Um povo feio, essencialmente feio,
Fora os meio imigrantes. Cada dia
Uma outra humilhação que se anuncia,
Um saque, um roubo, sem controle ou freio.
Uma horda de imbecis, de olho no alheio,
Cuja rapina é a única mestria
Pretensamente os donos da alegria
Da esperteza, da graça e Deus no meio.
Um pátio dos milagres dos devotos
De tudo, irracionais, analfabetos
A orar, a praguejar, a cumprir votos,
À espera do que os salve, em meio a insectos,
A matar-se, a banhar-se nos esgotos
Das praias sem iguais, entre os dejectos.
Trata-se de uma poesia que não teme chamar as coisas pelos seus nomes embora também não deixe de reflectir sobre a poesia (ela mesma) e os poetas. Como em «Fernando Pessoa»:
Venceste. O reino é teu. Torceste a sina.
Compraste a vida invicta com a outra vida.
sem ter sido, ela é a nossa.
A sombra puída
Do teu corpo nos guia em cada esquina.
No posfácio Gil de Carvalho chama a atenção para o facto de Bueno ser «um poeta de várias culturas». O mesmo é dizer um poeta a descobrir pelos leitores portugueses. Com toda a urgência e para seu proveito intelectual. Porque nem só de pão vive o homem.
José do Carmo Francisco
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