Diário da Peste de Londres
Em 1665 terão morrido de peste mais de cem mil pessoas em Londres. Este livro reproduz o que Henry Foe, tio de Daniel Defoe, terá escrito durante esse tempo terrível. Regista-se o aparecimento de bruxos: «Todo este comércio se generalizou a tal ponto que era proverbial encontrarem-se dependuradas das portas tabuletas e letreiros assim concebidos: «Aqui mora um adivinho», «Aqui habita um astrólogo», «Aqui fazem-se horóscopos» e outras coisas do género.» O autor refere o que passou na sua casa: «Só tinha em casa uma velha governanta, uma criada, dois aprendizes e eu; e quando a peste principiou a crescer em volta de nós, sombrios eram os pensamentos que eu ruminava sobre a atitude que devia tomar e a maneira como agir». O medo dos habitantes de Londres levava-os ao desespero: «Havia mães que no delírio matavam os filhos e pessoas que morriam de dor ou muito simplesmente de medo ou de pânico sem qualquer infecção; e outras a quem o medo imbecilizava ou tornava insensíveis, quando as não lançava no desespero ou na demência ou ainda numa loucura atrabiliária». Um outro aspecto tem a ver com as actividades comerciais: «nenhum navio entrava ou saía do porto como antigamente e os marítimos, sem emprego, haviam caído na mais negra miséria. Com eles contavam-se os carpinteiros navais, calafates, cordoeiros, tanoeiros, veleiros, serralheiros de âncoras, poleeiros, escultores de madeira, armeiros e abastecedores de bordo.»
José do Carmo Francisco
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